23 de abr. de 2016

Paixão, razão e violência

Não se sabe exatamente como ou quando surgiu o termo Barra brava, mas ele aparece já em 1925 quando a revista argentina Critica publicou uma nota com esse mesmo nome para definir ‘grupos mais ou menos uniformes de energúmenos que vão aos campos com o objetivo de manifestar seus baixos instintos’. Manifestar baixos instintos seria, entre outras coisas, o mesmo que agir de forma irracional, estúpida ou violenta. Hoje, quase um século depois, o senso comum repete essa mesma visão, as barras bravas seriam grupos de torcedores fanáticos e violentos que agem de forma instintiva e irracional por conta da paixão que devotam aos seus clubes. Na verdade esse discurso repete a fala do torcedor, para quem futebol é uma paixão inexplicável e para quem tudo o que dele decorre é sentimento, é passional e também sem explicação. É como se as disputas, brigas, violências e mortes pudessem ser naturalizadas pelo predomínio dos instintos. Para além dos instintos há, porém, uma lógica, existem razões para a violência como também razões há para as amizades e isso pode ser compreendido. Seria demasiado ingênuo acreditar que indivíduos se unem às barras apenas para brigar e colocar suas vidas em risco sem que ganhassem nada em troca além da adrenalina disparada nos conflitos. Caso acreditássemos que são apenas grupos de vândalos, organizados em torno das atitudes violentas, seríamos obrigados a pensar que os conflitos são pouco frequentes e que os milhares de membros das barras pouco ou nada ganham com elas, já que poderiam arrumar brigas com maior frequência em qualquer bar ou boate da cidade, da mesma forma deixaríamos de entender que uma parcela significativa dos conflitos se dão entre membros de uma mesma torcida. É preciso entender que para muitos a barra é uma espécie de família, é o lugar das amizades, do sentimento de pertencimento, é onde o indivíduo se vê como parte de um todo e como membro de uma comunidade que dá sentido às suas ações, não seria, portanto, muito diferente de uma igreja, de um grupo assistencial, de uma célula de um partido político ou qualquer grupo semelhante.