Não se
sabe exatamente como ou quando surgiu o termo Barra brava, mas ele aparece já
em 1925 quando a revista argentina Critica publicou uma nota com esse mesmo
nome para definir ‘grupos mais ou menos uniformes de energúmenos que vão aos
campos com o objetivo de manifestar seus baixos instintos’. Manifestar baixos
instintos seria, entre outras coisas, o mesmo que agir de forma irracional,
estúpida ou violenta. Hoje, quase um século depois, o senso comum repete essa
mesma visão, as barras bravas seriam grupos de torcedores fanáticos e violentos
que agem de forma instintiva e irracional por conta da paixão que devotam aos
seus clubes. Na verdade esse discurso repete a fala do torcedor, para quem
futebol é uma paixão inexplicável e para quem tudo o que dele decorre é
sentimento, é passional e também sem explicação. É como se as disputas, brigas,
violências e mortes pudessem ser naturalizadas pelo predomínio dos instintos. Para além dos instintos há, porém, uma lógica, existem razões para a
violência como também razões há para as amizades e isso pode ser compreendido.
Seria demasiado ingênuo acreditar que indivíduos se unem às barras apenas para
brigar e colocar suas vidas em risco sem que ganhassem nada em troca além da
adrenalina disparada nos conflitos. Caso acreditássemos que são apenas grupos
de vândalos, organizados em torno das atitudes violentas, seríamos obrigados a
pensar que os conflitos são pouco frequentes e que os milhares de membros das
barras pouco ou nada ganham com elas, já que poderiam arrumar brigas com maior
frequência em qualquer bar ou boate da cidade, da mesma forma deixaríamos de
entender que uma parcela significativa dos conflitos se dão entre membros de
uma mesma torcida. É preciso entender que para muitos a barra é uma espécie de
família, é o lugar das amizades, do sentimento de pertencimento, é onde o
indivíduo se vê como parte de um todo e como membro de uma comunidade que dá
sentido às suas ações, não seria, portanto, muito diferente de uma igreja, de
um grupo assistencial, de uma célula de um partido político ou qualquer
grupo semelhante.